5 Novembro – 7 Janeiro 2021.
Galeria de Arquitectura_NOTE, Lisboa.
Esta publicação é um complemento à exposição de Cristiane Muniz e Fernando Viégas, realizada na Galeria de Arquitectura NOTE, em Novembro de 2021, logo após o periodo de pandemia mundial, que nos manteve confinados durante mais de um ano. Uma exposição que, como o título indica, aponta para a necessidade de “repensar” o modo de fazer arquitectura.
Através de quinze projectos construídos e um projecto ainda em processo, podemos entender que, para Cristiane e Fernando, o território é uma ferramenta de projecto e um ingrediente essencial à arquitectura. É desvendando o território e as suas necessidades ou debilidades, que a arquitectura surge, como se sempre tivesse estado lá, só faltava dar-lhe forma. Ou seja; a sua arquitectura é o resultado do modo como se aproximam do lugar, onde o processo é o mais importante.
Com a mesma delicadeza que desenham uma casa ou um edifício de habitação, também desenham um terminal rodoviário, ou uma escola ou um centro cultural. Sempre pensando nas consequências que essa arquitectura vai ter para a rua, para a cidade, para as pessoas. São arquitectos extremamente generosos, que vêm no acto de projectar uma forma de pensar a cidade junto com os outros, sempre atentos às necessidades e desejos de cada interveniente.
Nas dezesseis fotografias que vemos nesta exposição o que mais se destaca é a envolvente, a paisagem (seja ela de cidade, ou campo). A arquitectura perde o seu protagonismo como objecto, dando espaço ao lugar pensado como um todo. Este exercício (de pensar e fazer arquitectura) torna-se mais complexo quando é feito numa cidade como São Paulo. Uma metrópole com cerca de 12 milhões de habitantes, cujo cartão postal poderia ser o edifício COPAN (c. 1966) desenhado por Oscar Niemeyer, para albergar 5000 habitantes, ou o edifício Itália de Franz Heep (c. 1967) cuja cobertura nos oferece um lugar privilegiado para apreciar, ao entardecer, o intenso trânsito de helicópteros. Foi em São Paulo onde surgiram, nos anos 50 e 60, os mais emblemáticos edifícios de arquitectura moderna brasileira, e foi também em São Paulo que uma geração de arquitectos, à qual pertencem Cristiane e Fernando, puderam conviver e partilhar experiências com mestres arquitectos como Vilanova Artigas e Paulo Mendes da Rocha. Talvez por esse motivo, gostam de projectos cujas ideias não contêm na sua génese a forma à qual finalmente chegam. Cada projecto pode, assim, vincular-se a uma reflexão distinta e descontínua. Torna-se irrelevante pensar numa relação sistemática ou rigorosa com a função, a técnica, a estrutura, a história ou o contexto, porque tudo isso é percebido através do conjunto, não através das suas partes.
Pensar a arquitectura como algo alheio à linguagem possibilita enunciar princípios à margem da sua formalização e isso ajuda a entender porquê a arquitectura se deve pensar com independência da sua forma, o que importa é a sua forma de expressão e de relação. Ou seja, o importante é a relação entre “as coisas” e não “as coisas” em sí. Esta talvez seja uma das reflexões que esta exposição nos proporciona.
Información suministrada por
Bárbara Silva
Directora Galeria de Arquitectura NOTE, Lisboa.